A Justiça Social e o trabalho de Luis Mario Lula - parte 2

domingo, 22 de janeiro de 2012 0 comentários
2° Postagem da série sobre o trabalho do Sr. Luis Mario Lula em nossa paróquia. Os relatos foram dados pelo próprio Sr. Luis Mario, que hoje mora no Canadá.


Como funcionava a paróquia entre 1962 e 1965.

Construção do CRESMAM
Realizar   uma fotografia exata do funcionamento  da paróquia de Pedreiras nos anos sessenta  pode transparecer uma certa  subjetividade de minha parte. Contudo,  vou procurar  ser fiel  o mais  que puder. A primeira coisa  que é necessário  levar em consideração é a extensão territorial da paróquia. O campo de ação pastoral  compreendia os municipios de Lima Campos, Capinzal do Norte até Santo Antônio dos Lopes  por um lado  e por outro lado  se extendia  até  Poção de Pedras. Como se pode ver  era uma área imensa  que  corresponde  muito bem, nos dias de hoje, a  uma diocése. Uma  segunda realidade  a  não negligenciar  são os meios de locomoção  utilizados na época. Para se chegar  à  todos  os pontos  da paróquia se utilizava muitas  vezes  o  ônibus,  o misto, o caminhão e à vezes  o cavalo. Quanto às estradas é bom não falar para não relembrar o sofrimento. 
O trabalho pastoral nas áreas mais distantes era realizado durante o verão. Muitas vezes, passava-se  uma semana viajando no interior, como se dizia na  época.
Um dia  era reservado para cada lugar. Chegava-se à tardinha  e à  noite, depois do jantar, o povo se reunia  na capela e era o momento de uma pequena  pregação e depois as intermináveis confissões. No dia seguinte, era celebrada a missa, em seguida se realizava os casamentos e por ultimo os batizados. Depois do almoço, já era o momento  de pensar  a tomar outro meio de transporte  disponível  afim de chegar de novo, à tardinha, no lugar seguinte. E o mesmo programa se repetia  de um lugar a outro. Como  se pode constatar, todo este trabalho  era extremamente cansativo, desgastante e para mim  inoperante.  A minha visão portanto era outra, pois  uma pastoral  centrada  simplesmente numa sacramentalização leva  à um  infantilismo e cria  um «clientelismo» consumidor da fé. Mas  essa  era a visão dominante nesta época apesar  de se  começar  já  a  ouvir  soar  os sinos  do Vaticano II ,  para o mundo inteiro , nos convidando  à uma mudança radical na nossa maneira de ver e de agir junto  às comunidades .
Foi  esta visão de cristão  consciente e engajado, como membro ativo na comunidade, que procurei  inserir e  integrar  junto  às diferentes associações da paróquia. Claro, na sede paróquial a sacramentalização  fazia tambem  parte  da sua  paisagem  pastoral. Mas já  inserida dentro d’um outro contexto. Para a  passagem  d’um modelo à outro teriamos que dar tempo ao tempo. Várias  iniciativas  foram  lançadas para redinamizar  os diferentes grupos   da paróquia. É bom lembrar  que  ainda nesta época  o padre  era a pessaoa  que mandava tudo, que conhecia tudo e que só ele era o dono da verdade. O cristão era um mero expectador, um seguidor, sem nenhuma iniciativa, enfim um simples número. Era urgente reverter  esta situação. Por isso  todo o esforço pastoral  foi de criar  um espaço  de liberdade onde cada cristão pudesse exprimir  sua voz  e ter tambem  sua vez  na transmissão da  mensagem e na organização da vida  paroquial
O que muito contribuiu  para reforçar esta dinâmica  foi a realização de várias semanas catéquéticas.  A JAC também  muito ajudou a cristalizar esta idéia. Outra iniciativa  decisiva do desejo   de que os cristãos  pudessem  assumir  tambem um  lugar  de decisão na igeja local  foi a criação do Conselho Paroquial  e  através dele   os primeiros passos para  a implantação do dizimo. No plano humano e social  vimos também,  nesta época, despertar  um  grande  desejo  por experiências  cooperativistas. Cabe notar aqui o projeto de coopeerativa desenvolvido em Marianópolis, ponto central  de todo este movimento. Com a saida de Dom Delgado para Fortaleza, Dom Motta procurou se desfazer aos pouco desta experiência. Foi mais uma tentativa para despertrar na consciência cristã que é possível  solucionar os problemas  socias  de nossas comunidades quando  formos  capazes de nos unir. Esta  experiencia também  nos indicava que o nosso trabalho pastoral  deveria  ter uma visão  mais larga  levando em conta a pessoa humana como um todo, isto é,  em todas as suas dimensões.
Para concluir, posso  afirmar , com muita modéstia,  que deixando  a paróquia  de Pedreiras,  apesar  das resistêcias  e dos limites  humanos e materiais,  o terreno  foi   trabalhado  e  a semente foi plantada  para  receber novas  iniciativas  que viessem reafirmar  a presença  e o lugar dos leigos  na  longa e árdua caminhada  de uma pastoral participativa.

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