A Justiça Social e o trabalho de Luis Mario Lula - Parte 3

sábado, 28 de janeiro de 2012 3 comentários

3° Postagem da série sobre o trabalho do Sr. Luis Mario Lula em nossa paróquia. Os relatos foram dados pelo próprio Sr. Luis Mario, que hoje mora no Canadá.

Avaliação do crescimento da igreja nestas últimas décadas.

Apostolado da Oração no início da década de 1980
Torna-se muito difícil para mim avaliar  a evolução  da  Igreja  nestas últimas décadas. Quem sou  eu para a avaliar  a marcha de uma instituição? Mas para  responder esta questão, poderia  simplesmente  sublinhar  um pouco  sobre  o espírito  que pairava  nos anos   60 e a  situação da igreja  nos dias de hoje. O que vou dizer  não é  para  ofuscar  quem quer  que seja e nem  é uma crítica negativa  junto àqueles e àquelas pessoas que se doam  de corpo e alma  para o bem da comunidade e o crescimento da igreja: o meu grande  respeito  e a minha compreensão  para  com todas estas pessoas. O meu testemunho  é apenas uma simples constatação   e um  questionamento  de uma pastoral  de massa. Espero a ninguém ofender.


Os anos 60  foram para a Igreja  uma época  de muita experiencia, de  efervecência  e de muito esperança. A população estava  anciosa à espera  de algo que viesse matar  sua  sede  com uma mensagem renovada e o desejo de se engajar mais profundamente afim de contribuir na  construção de um mundo melhor, mais justo  e mais humano. Esta esperança fazia com que os corações das pessoas  se abrissem  com mais facilidade. Mas, reações à esta abertura  se faziam sentir no interior mesmo da Igreja diocesana. Podia se  distinguir entre o grupo dos monsenhores  e cônegos  arraigados  às antigas  práticas de pastoral e o grupo dos padres mais novos que procuravam  estabelecer uma linha  de trabalho, inspirado  pelos novos ventos oriundos do Vaticano II.  Diante desta situaçao os padres mais novos eram  transferidos  de paróquia em paróquia  no fim de cada retiro anual. Foi assim  que de Morros, minha primeira  paróquia,  fui transferido para Pedreiras.  É importante  frisar  que toda este  desejo  de mudança no âmbito da igreja e  em todas as esferas  das atividades humanas, foram cerceados  pelo golpe militar  de 64. Este  acontecimento  teve uma repercussão  imensa  dizimando quase todas  as lideranças c omunitárias.  O medo se instalou.  Ninguem  podia se questionar. Cada  pessoa, isolada   procurava viver  a sua vida  como podia. Um clima de desconfiança pairava  em todos os setores da vida.  Enfim, foi um período  de escuridão que paralisou  toda uma dinâmica  que começava a s’instalar na sociedade. Certamente, a nossa igreja de hoje  sofre  ainda  as consequências  desta época  de silêncio  e de  amordaçamento. Talvez, fazendo um exame mais rigoroso  deste período,  podemos encontrar  uma certa explicação  do caminho que tomou a igreja de hoje  na elaboração de sua pastoral.

Desde 1971, época em que vim para o Canada, os meus contatos com o mundo ecclesial são pouquíssimos. O que   posso dizer  é que  hoje observo  uma mudança quase radical na igreja. Voltou-se à uma religiosidade quase doentia. As emoções são  uma constante nas celebrações e nas diversas manifestações religiosas. O movimento «pentecostista »  invadiu todas as esferas das atividades pastorais. Voltou-se ao que predominava antes dos anos 60, isto é, à  uma  religião voltada para si mesma sem nenhuma repercussão junto aos problemas que afligem  pessoas da comuinidade. Cada um por si e Deus por  todos. Uma fé que reforça e abastece  o individualismo. O comunitário se expressa exclusivamente nas manifestações de religiosidade. A sacramentalização é o ponto central de toda a ação pastoral, guardando os cristãos numa total infantilidade.

Creio que tudo o  que acabei d’enumerar é fruto de tudo aquilo que respiramos. Um mundo sem contestação e  sem questionamentos. Um mundo tranquilo onde cada pessoa  procura respirar  sua própria felicidade…Um mundo onde cada pessoa é conformada consigo mesma. Claro que a Igreja, na sua hierarquia, se sente também conformada e acomodada.

Até quando a Igreja ficará marcando passos?...

3 comentários:

  • Klev2009 disse...

    Discordo um pouco do Sr.Lula, acredito que a Igreja tem como missão principal cultivar o "espíritual" do seu povo.As lutas sociais, pelo conforto material do povo devem se dar em outro lugar.Com os ventos de mudança pós concílio vaticano II, o que se viu foi se firmando um catolicismo “a la carte”, em que cada um escolhe a parte que prefere e rejeita o prato que considera indigesto. Na prática um catolicismo dominado pela confusão de papéis, com sacerdotes que não se aplicam com empenho à celebração da Missa e às confissões dos penitentes, preferindo fazer outra coisa (política, por exemplo). E com leigos e mulheres que buscam subtrair um pouco por vez, o lugar do sacerdote para ganhar um quarto de hora de celebridade paroquial, lendo a oração dos fiéis ou distribuindo a comunhão.Uma Igreja espíritual, é na minha concepção o modelo de Igreja ideal, para enfrentar-mos tempos tão conturbados.A crise de vocações sacerdotais, e o próprio fato do Sr.Lula ter deixado o sacerdócio, me deixam mais do que certo de minha opinião.

  • Clauber disse...

    Querido Lula,

    Li com atenção tua narrativa sobre a Pastoral na Paróquia de São Benedito em Pedreiras nos anos 60 e as dificuldades de padre jovem nas famosas desobrigas a cavalo (hoje os seminaristas vão fazer suas pastorais de carro ou nem se quer fazem pastoral porque é preciso ficar no Seminário e evitar o mundo que é cruel). Esta experiência numa Igreja em plena mudança com o Concílio Vaticano II fez-me lembrar de minha participação nas Missas em Igarapé Grande com apenas cinco anos de idade em 1967 em que, apesar da miséria geral nos empolgávamos com os Sermões do Frei Paschoal Rotta e com os cânticos das Irmãs de Jesus Crucificado. Cheguei da Missa um dia em casa e disse para minha mãe Maria:
    - Escuta só mãe o cântico novo que eu aprendi hoje na Missa com as freiras! E ai cantei com a empolgação de menino que se alegrava só de brincar com o barro vermelho da rua do alto da ladeira em Igarapé Grande, a Balada da Caridade, que ainda hoje não me sai da memória:
    Para mim a chuva no telhado
    É cantiga de ninar
    Mas o pobre meu Irmão
    Para ele a chuva fria
    Vai entrando em seu barraco
    E faz lama pelo chão
    Como posso
    Ter sono sossegado
    Se no dia que passou
    Os meus braços eu cruzei?
    Como posso ser feliz
    Se ao pobre meu Irmão
    Eu fechei meu coração
    Meu amor eu recusei? (bis)
    Para mim o vento que assovia
    É noturna melodia
    Mas o pobre meu irmão
    Ouve o vento angustiado
    Pois o vento, esse malvado
    Lhe desmancha o barracão
    Quando terminei de cantar minha mãe disse: - Menino isto não é musica de Igreja. Isto é comunismo! Pára de cantar estas coisas!
    Minha mãe tinha medo e com razão porque muitas lideranças tinham sido expulsas do país por músicas de teor social como esta.
    Estávamos em pleno Regime Militar na República Brasileira Pós Estado Novo e em plena Guerra Fria. Para nós crianças inocentes não era comunismo beber aquele leite grosso que nós chamávamos de leite porronca. A Aliança para o Progresso do governo dos Estados Unidos era a contrapartida da mudança social da União Soviética.
    Lula, ainda hoje este este cântico não é de Igreja porque na nova Liturgia de 2012 temos que procurar cânticos mais apropriados à Liturgia da Missa Barroca ou similar ao canto gregoriano em que só a alma conta, o corpo não. Tú tens razão.
    Querido Lula,
    A tua experiência continua atual e o teu trabalho social é mais do que necessário, mesmo que o Brasil de hoje esteja em situação econômica melhor, graças à dependência das exportações para a China e aos juros mais altos do mundo que atraem os especuladores estrangeiros.
    Continua Lula a escrever estes artigos históricos, que muito ajudarão os seminaristas e leigos de hoje a compreenderem como era a administração de uma Igreja paroquial nos terríveis anos de Ditadura Militar.
    Hoje Lula tá todo mundo conformado até o dia em que a casa cair. Espero que façamos algo antes que isto aconteça porque a Igreja de Cristo somos todos nós leigos e padres e há muito por fazer, Parabéns pelo teu trabalho no CRESMAM e continua escrevendo para nós e para o mundo através da internet. Se tú não escreveres as pedras da ponte que caiu em Pedreiras nos anos 80 escreverão por ti e o Pecuapá vai acordar do seu sono debaixo da mesma ponte e vai dizer:
    - Padre Lula, tú não és mais a figura apagada como dizia Dom Filipe Condurú Pacheco. Tú és o homem do ano 2012 nestes 400 anos de fundação da cidade de São Luís e da Evangelização do Maranhão. Depois destas palavras, Pecuapá voltou a dormir debaixo da ponte de Pedreiras.

    Padre Clauber Pereira Lima, filho de Pedreiras e batizado por Monsenhor Gérson Nunes Freire em 1964.

  • ROF disse...

    Padre Clauber, achei interessante seu texto e fiquei curioso com o fato de seres filho de Pedreiras. Se puder entrar em contato, gostaria de publicar sua história.

Postar um comentário